O sorriso do estranho

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Um gole de esquecimento


Conto 
Acordei cedo aquele dia, ou melhor dizendo, não dormi. A noite anterior ainda em minha cabeça. Lembro-me de sair mais cedo do trabalho, não me lembro de como fui parar lá. Era para ser um café, um gole, um pão de queijo, por favor.
Ela entrou, não me veja, não me veja, já estava vindo em minha direção. Não há porta aqui atrás, não tem como correr, já está perto. E agora? Parou em minha frente e sorriu.
Quanto tempo, tantos anos. Já sentou. Tudo bem. Tudo ótimo. Ela vai de café também. Por que está aqui? Emprego novo. Está noiva. Que ótimo. Aquele cara da escola. Já apanhei dele.  Odeio ele. Parou de fumar. Está magra. Não quero falar sobre mim. Não pergunta. Ela insiste. Deixa pra lá. Não há nada para falar. Devo ir. Adeus. Não quero voltar a te ver.
Uma vodca. Um gole, dois goles. Mais uma, por favor. Virei tudo. Tanto tempo que vivi de saudade. E agora? Virei outra. Decepção. Ela me viu acabado. Quero outra. Vou embora. Está chovendo. Uma tempestade. Parece comigo por dentro. Vou ficar mais um pouco. Outro gole.
Ela não me quis mais. Aquele fim. Faz tanto tempo. Outra vodca. Obrigado. Bebi saudade à espera dela. Ela nunca voltou. Está feliz. Eu nem tanto. Um gole. E adormeci.

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